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Ford Bronco Sport 2.0L Ecoboost

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Ford Bronco Sport 2.0L Ecoboost

SUV de sangue aventureiro vem para brigar contra modelos urbanos

A Ford do Brasil realmente está tentando mudar sua imagem no país, deixando de ser uma marca de carros populares e voltando a ser a marca de refinamento e conforto que teve no passado mas com adição de emoção. A melhor prova disso é o Ford Bronco Sport, um misto de Ford Territory com Ford Ranger, oferecendo conforto e mimos que se podem ter na Territory e acrescentando excelente capacidade off-road (e também boa no asfalto). Traz pneus de uso misto, suspensão bem elevada aliados ao motor 2.0L Ecoboost de 240cv e 38kgfm de torque com uma transmissão ZF de 8 marchas.

Carroceria e design externo

A história do Bronco começou lá em 1966 sendo um dos primeiros SUVs em âmbito mundial, numa época que os consumidores reclamavam que os veículos 4X4 (Jeeps) eram ruins e pouco práticos no dia-a-dia do asfalto – fracos, desconfortáveis, ruins de curvas. Com 2 portas, o Bronco original era praticamente uma picape Ford encurtada e com cabine fechada, otimizando o conforto e rodagem sem sacrificar o lado aventureiro.

Nessa atual geração de resgate do nome Bronco a Ford trouxe a versão 2 portas chamada apenas de Bronco, focado no lado aventureiro e divertido, podendo ser removidas as portas (que podem ser guardadas no porta-malas) e parte do teto.

Mas também criou a versão Bronco Sport, que remete à versão mais longa do passado, agora com 4 portas para atender consumidores que não querem apenas um brinquedo, mas sim um veículo que possa levar mais bagagem e ser usado no dia-a-dia como um SUV comum.

O desenho externo da carroceria chama atenção pelo jeitão mais quadrado, ao estilo jipão. Em um primeiro relance algumas pessoas acharam se tratar de um novo carro da Land Rover. O capô alto e largo é de alumínio para ajudar a deixar o centro de gravidade mais baixo. Os vãos da carroceria também são coerentes e alinhados e há enormes logotipos com o nome Bronco na dianteira e na traseira. As longarinas de teto são bem parrudas e espessas, permitindo que se leve muita coisa em cima ou mesmo que se monte uma barraca de rack.

O teto solar abre a parte de vidro para cima e para fora, mas sem o risco de interferir com o rack ou qualquer adendo preso nele. Além disso o teto tem uma elevação na região dos ocupantes traseiros para que haja mais espaço para a cabeça.

Habitáculo, acabamento interno e porta-malas

Ao se abrir a porta do Bronco a apresentação interna é o grande destaque, com emprego de bons materiais aliados à grande mídia e ao painel de instrumentos com visor central do tipo LCD que integra o computador de bordo. Quando a porta é aberta, tanto o painel quanto a mídia central fazem toda uma apresentação de pedras rolando no deserto até formar o cavalo Bronco.

No console central há bastante espaço para objetos, apoio de braço com compartimento grande que ao mesmo tempo serve os passageiros com ventilação traseira e uma tomada 110v e bom ponto para se apoiar o celular – com carregamento de bateria por indução que seria perfeito se houvesse conexão com o sistema Android Auto e Apple CarPlay sem fio. Há também uma redinha no lado do passageiro para se colocar o celular ou carteira. O sistema de ar-condicionado é do tipo dual zone, com botões físicos – giratórios para temperatura – de fácil uso sem a necessidade de desviar o olhar enquanto se dirige (até projeta a temperatura selecionada na mídia central). O que também ajuda é o seletor de marchas giratório – afinal já faz tempo que as transmissões automáticas selecionam eletronicamente as marchas dentro da caixa de câmbio, sem ligação física entre o seletor e a caixa, eliminando a necessidade de alavancas. Junto ao seletor de marchas há também o freio de estacionamento elétrico e a função de retenção dos freios ao se estar parado com o carro e soltar o pé do freio – recurso muito útil no trânsito pois o carro só volta a andar ao se pressionar o pedal do acelerador. Há um conjunto de botões para seleção dos modos de condução através do botão “G.O.A.T Modes”, que possui 7 opções de uso e botões para ativar a tração 4X4, travar o diferencial traseiro, desligar o sistema de tração e estabilidade além do assistente de descidas (explicadas mais abaixo). A título de curiosidade, o acrônimo “G.O.A.T” – Goes Over Any Terrain (Vai Sobre Qualquer Terreno) é um trocadilho em inglês com a palavra “goat”, que significa bode. Provavelmente a Ford quis associar seu sistema de tração àqueles bodes montanheses que vivem pendurados em terrenos extremamente íngremes.

Os bancos em couro de tons preto e marrom são confortáveis, com a parte superior em camurça, oferecendo bolsas com zíper e vários pontos para se pendurar objetos no banco traseiro. O banco do motorista conta com ajustes elétricos, inclusive lombar, mas carece de memória de posição. Um item curioso é o forro do assoalho em material emborrachado e não carpete, muito útil para trilhas por ser fácil de limpar e não impregnar odores. Há também um porta-objetos abaixo do banco traseiro direito, emborrachado para poder guardar, por exemplo, sapatos sujos de lama.

A mídia central conta com GPS próprio, que pode parecer inútil no uso urbano quando se mantém o celular conectado ao Waze ou Google Maps, mas que se torna fundamental em regiões onde não há sinal de celular. Além das diversas funções e tela de boa resolução, a mídia central conta com um belo sistema de som da B&O, potente (1000W) e de boa qualidade. O subwoofer fica na parte superior do painel e conta com 10 altofalantes espalhados pela cabine. Há também um sistema chamado FordPass Connect que permite acessar diversos dados e funções do carro via celular. Pode-se por exemplo acionar o motor à distância para climatizar a cabine antes de entrar no carro. Também há informações de status do veículo, como aviso de acionamento do alarme, autonomia, etc.

A posição de dirigir é muito boa e fácil de ser encontrada, principalmente pelo volante com regulagem de altura e profundidade que chega bem próximo do ocupante se necessário – geralmente o volante costuma ficar longe de ocupantes mais altos que colocam o banco bem para trás. Já o espaço no banco traseiro é um pouco apertado para as pernas de ocupantes mais altos, contudo o espaço para cabeça é muito bom. Ponto importante e que merece os parabéns é o ancoramento superior central para cadeirinhas do tipo IsoFix, sendo possível levar a criança no centro do banco traseiro com total segurança.

Já o volume do porta-malas não é dos maiores, apesar de declararem 580L (talvez seja até o teto e não até o nível do encosto do banco traseiro?), e agrega soluções que podem tanto ajudar quanto atrapalhar. O volume é comprometido pelo raso assoalho, necessário para alojar uma suspensão traseira independente capaz de trilhas pesadas + sistema de tração no eixo traseiro + estepe na mesma medida dos pneus externos  – afinal, imagine se um pneu fura no meio da trilha e você precisa colocar aquele pneu fininho para enfrentar lama e barrancos.

O Bronco conta com uma tampa bem espessa e rígida com fixação própria que divide o porta-malas ao meio (quando se leva em consideração a altura do encosto do banco traseiro). A intenção é que tal tampa seja utilizada para levar alguns objetos menores e mais leves, podendo ser acessada quando se abre apenas o vidro traseiro. Obviamente a tampa pode ser removida ou mesmo dobrada junto ao encosto traseiro para alojar malas mais altas, porém isso deixa todo o porta-malas visível para quem está de fora. Por outro lado, a proposta é que tal tampa possa servir de mesa pois possui pés dobráveis que se apoiam no para-choque, ficando para fora do veículo. É possível usar um laptop ali, trabalhando em pé atrás do veículo, plugado na tomada 110V que há na lateral do porta-malas – junto à tomada de 12V. Ganchos por toda parte também auxiliam na hora de carregar sacolas ou mesmo roupas molhadas. Outro mimo são as luzes na tampa do porta-malas que são acesas por um botão próprio. Há até um abridor de garrafas na lateral do porta-malas. Ou seja, é um carro focado para quem gosta da acampar. A única pergunta é quanto tempo se pode deixar algo conectado na tomada de 110V sem drenar toda bateria do carro. Afinal, não é nada legal ficar ali atrás trabalhando no laptop ou usando a tomada para outra coisa enquanto os gases do motor são liberados no seu pé – aliás algo meio perigoso.

Com o porta-malas e encostos dos bancos traseiros emborrachados é possível levar bicicletas e outros itens cheios de lama sem remorso de sujar ou estragar o acabamento interno. O senão fica para o banco bipartido dividido com o pedaço do 1/3 para o lado do passageiro, que tira a utilidade de ser bipartido se você precisar levar uma prancha de surf grande ou qualquer objeto largo e comprido junto com outra pessoa (como explicamos no vídeo abaixo).

Sob o capô

O motor utilizado no Ford Bronco Sport trazido para o Brasil é o topo de linha: o conhecido 2.0L EcoBoost já empregado no Fusion de 240cv @ 5500rpm e 38kgfm @ 1750-4500rpm. Conta com injeção direta e turbo como parte de sua tecnologia, agregado aos comandos de válvulas variáveis. Nos EUA há também o motor 1.5L EcoBoost de 184cv.

Ao abrir o capô percebe-se que é mais leve do que parece por ser feito de alumínio, para ajudar a deixar o centro de gravidade mais baixo. Porém ele pode amassar facilmente se você tentar fechá-lo apoiando o peso com a mão, sem largar lá de cima. O habitáculo do motor é enorme dando a impressão que daria para colocar tranquilamente um V8 ali. A capa que cobre o motor é feita de um material flexível e emborrachado, com função estética e para atenuar o ruído. Já nas laterais, junto aos para-lamas, parece que faltou a cobertura que ia ali, deixando toda parte interna do para-lama exposta. Todo material de isolamento acústico fica exposto e até solto – junto à porta – mas pelo menos se consegue descobrir o motivo do Bronco ser tão silencioso no rodar. No vídeo junto ao Caçador de Carros, mostramos em mais detalhes o compartimento do motor a partir dos 10:25min:

A transmissão é uma ZF de 8 velocidades conectada ao diferencial traseiro de DUAS embreagens, mesmo sistema que empregava o Focus RS de tração AWD. Esse sistema consegue distribuir 100% do torque que vai para traseira para uma das rodas apenas, através de um conjunto de embreagens. Esse sistema ajuda tanto na trilha como e principalmente na tocada esportiva no asfalto. Mais detalhes estão no vídeo abaixo:

Suspensão e direção

O acerto de suspensão é muito bom, tanto para absorção de impactos como para o controle de movimentos longos da carroceria. E obviamente o curso de suspensão é enorme devido a sua proposta offroad mas sem que haja qualquer prejuízo no asfalto. Aliás, desprezar lombadas se torna uma brincadeira divertida já que pouco movimento é transferido para os ocupantes.

A suspensão dianteira é do tipo McPherson e a traseira multi-link, ambas com braços inferiores em alumínio para reduzir a massa não suspensa – isso melhora comportamento dinâmico em curvas e o conforto aos ocupantes.

O acerto do sistema de direção também é bom, possuindo boa precisão e respostas rápidas mesmo com os pneus mais “balões” que retardam as respostas do volante – perfil baixo de pneus aumenta a velocidade de respostas. Também chamou a atenção o quanto o Bronco Sport esterça, levando em conta o seu tamanho.

Desempenho, consumo e impressões ao rodar

Vamos ser justos e lembrar da frase dita pelo Felipe Carvalho, Caçador de Carros, ao andar no Ford Bronco Sport: “Há algum carro de R$ 250mil ruim?”. Realmente é difícil que haja, mas o que chama atenção no Bronco Sport é como ele consegue atender bem tanto no asfalto quanto fora dele. A progressão do acelerador é a ideal, dando a impressão de um carro ágil mas sem aquele problema para se dosar a aceleração ou velocidade. Há também diversas configurações de modo de dirigir – 7 no total – que mudam a progressão do pedal do acelerador, a troca de marchas e atuação do sistema de tração junto ao controle de estabilidade. Existe até o modo “lama/terra” que permite maior “disparada” das rodas para que a lama se solte dos pneus, limpando-os e permitindo maior tração.

No asfalto notam-se trocas suaves e rápidas de marchas, a transmissão tem uma calibração realmente inteligente que se adapta a cada condição. Afinal, com 8 marchas para escolher é um tanto comum haver carros que ficam o tempo todo pulando de marcha.

O consumo impressionou pelo peso – 1718kg – e pelo arrasto aerodinâmico devido a sua altura e largura. Fez 11,1km/l no nosso trecho padrão de consumo urbano de 70km, sendo 80% pelas marginais Tietê e Pinheiros em São Paulo. Como referência, o Honda Fit fez 14,6km/l no mesmo uso. O uso de várias marchas, que permite rotações mais baixas em diversas condições, e um motor com injeção direta fazem com que o Bronco Sport tenha um bom consumo mesmo com todo o arrasto aerodinâmico já mencionado.

A aceleração também foi outro ponto forte. Por algum motivo não explicado, a Ford continua teimando em divulgar os números de 0-100km/h sem usar a manobra de Stall (tal manobra visa aproveitar a multiplicação do conversor de torque e encher o turbo ao pisar no freio e acelerar ao mesmo tempo, até que a rotação se estabilize e depois se solte o freio). A Ford divulga oficialmente 8s de 0-100km/h, mas utilizando a manobra de Stall conseguimos 7,0s até os 100km/h e 15,1s até os 400m, sendo o carro mais rápido das avalições do Felipe Hoffmann para o BestCars e Caçador de Carros. Ou seja, enquanto os concorrentes divulgam números até melhores que a capacidade do carro, a Ford divulga números piores que o carro é capaz.

Além disso, aquele ditado que diz “potência não é tudo” é muito válido no caso do Bronco Sport, que possui 240cv enquanto a Equinox 2.0L por exemplo possui 265cv.

A GM divulga 0-100km/h em 7,4s enquanto nos testes realizados pelo BestCars e processados pelo Felipe Hoffman se mostraram 7,6s, ou seja, embora o Equinox tenha 1 marcha a mais e maior potência, o Bronco Sport acelera mais que o Equinox que tem uma proposta muito mais focada no asfalto que o Bronco Sport, sendo que a Equinox só começa a “buscar” o Bronco Sport depois dos 16s. Também é interessante notar que a GM consegue gerar mais potência com bem menos pressão de turbo (linhas mostrando “MAP). Este ponto, bem como uma análise mais profunda, podem ser vistas no vídeo abaixo:

Em curvas o Bronco Sport não faz feio, muito pelo acerto de suspensão mas também pelo sistema de tração descrito acima. Marco Liasch, excelente preparador e um fã de carteirinha dos carros alemães ao mesmo tempo que assume não gostar de Fords no geral, deu o braço a torcer ao dizer: “Não se espera esta capacidade de curva num carro tão alto e com estes pneus mistos” (225/65 R17 Pirelli Scorpion AT). O controle de estabilidade eletrônico acaba entrando em ação mais cedo do que se espera, mas há a opção de deixá-lo mais permissível através de um toque rápido. Há também a opção de desativar tudo, segurando o botão por alguns segundos, o que faz o Bronco Sport contornar curvas de maneira assustadora para a altura que tem – é nítida a influência da estratégia “vetorização” do torque. Neste quesito não tivemos coragem para abusar até o limite, afinal, mesmo sabendo que a Ford é referência em dinâmica e que não comeria bola em deixar o Bronco Sport capotar fácil, sabemos que as leis da física ainda existem e caso o pneu calce em algum desnível, buraco ou imperfeição comum do nosso asfalto, pode ocorrer o tombamento numa situação tão extrema num carro tão alto, pois a aceleração lateral imposta é de fazer inveja a muitos sedans por aí.

A parte de segurança é outro destaque, com piloto automático adaptativo do tipo “Stop and Go” que freia o carro sozinho se o carro da frente para e sai sozinho na hora que o carro da frente volta a movimentar-se. Também conta com reconhecimento de faixas ativo, que movimenta o volante sozinho para manter o carro dentro da faixa – essa função funciona apenas com o piloto automático ligado. O sistema faz curvas sozinho mas fica apitando um alarme para que o motorista volte as mão ao volante. No limite ele chega a desativar a atuação se o motorista não fizer nada, mas somente em linha reta.

Conclusão

Claro que gostamos do Ford Bronco Sport, afinal é um carro de ¼ de milhão de reais. Porém a própria Ford ressalta que seu principal concorrente em refinamento e potência, o Discovery Sport R-Dynamic (mais focado no asfalto apesar do sistema AWD) custa R$ 337.950 e entrega menos mimos que o Bronco Sport. Talvez o único senão do carro em si seja o espaço disponível para as pernas dos ocupantes traseiros, embora longe de ser desconfortável. O mais difícil talvez seja a Ford conseguir convencer que está deixando de lado a imagem de ser fabricante do Ka – bom carro mas de uma categoria popular – para uma marca mais premium. Será que quem tem R$ 250 mil reais não irá preferir levar a grife da marca, como BMW e Land Rover, ainda que sabendo que o produto Ford pode entregar mais? Além disso, apesar de se mostrar um carro bem robusto para trilhas, um dia, mais cedo ou mais tarde o Bronco Sport precisará de manutenções mais profundas. E como seriam os custos e disponibilidade de peças de sistemas tão tecnológicos? Somente o tempo dirá, mas se algumas marcas chinesas e coreanas conseguiram vencer este preconceito é muito provável que a Ford com décadas de tradição no Brasil consiga emplacar o Bronco Sport.

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