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Jac T60 – 1.5L Turbo CVT 2020

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Jac T60 – 1.5L Turbo CVT 2020

jac t60

SUV da Jac Motors vem com a proposta de entregar melhores powertrain e conteúdo a preço menor que dos concorrentes. Mas será que cumpre bem este papel?

Poderíamos dizer que o T60 é o carro da Jac Motors que serve de chamariz na hora que um cliente passa na frente de uma concessionária da marca chinesa. Com preço a partir de R$ 112.490,00, design chamativo e ar sofisticado o T60 atrai para ver de perto o carro que possui interior bem refinado e apelo mecânico interessante: Motor 1.5 Turbo a gasolina de 168cv aliado à transmissão CVT prometem um bom equilíbrio entre desempenho e consumo de combustível. Há também o apelo para o volume do porta-malas e o maior chamariz de consumidores atuais: A enorme central de mídia aliada à câmera 360 graus.

jac t60

Carroceria e design externo

O desenho externo do T60 parece ter tido inspiração no famoso Ford Edsel de 1958. Não pelo desenho em si mas pela proposta: A Ford na época fez pesquisas para saber o que mais agradava em um carro em termos estéticos e colocou ali tudo que estava no topo da lista na época:

ford edsel
Ford Edsel

 

E isso parece que foi feito no desenho do T60 com diversos detalhes como vincos, caixas de rodas quadradas e partes cromadas como se houvesse a intenção de agradar a todos. O resultado final chama atenção e transmite um ar de carro mais premium, mas com um olhar mais atento percebe-se que partes como o paralamas dianteiro em formato “quadradão” nada conversa com as portas cheias de vincos – que por sinal darão um enorme trabalho no futuro para os funileiros e martelinhos de ouro para reparar os invitáveis amassados de batidas de portas em estacionamentos.

Já as longarinas de teto são esteticamente discretas mas rígidas e funcionais para que se possa instalar racks para levar o que quiser em cima do carro, com cuidado para não interferir com a abertura do teto solar.

Habitáculo, acabamento interno e porta-malas

jac t60 interior

A apresentação ao se abrir a porta é o destaque do T60, com bons materiais empregados aliados à grande mídia e ao painel de instrumentos do tipo LCD. Obviamente que passa a mesma sensação do exterior, de que tentaram agradar todo mundo com revestimento em couro no painel com costuras alaranjadas e partes em black-piano.

Os comandos do ar-condicionado se acendem abaixo das saídas de ar central trazendo um ar mais refinado ao interior, porém acabam não sendo práticos no dia-a-dia. Por serem de toque exigem que o motorista desvie o olhar da via para alterar qualquer comando, já que não há como descobrir pelo tato. Os comandos são mostrados na central de mídia com um grafismo bem chamativo, que no final decepciona por ser um simples ar-condicionado manual, sem controle de temperatura, apenas com comandos bonitos. Assim como em carros populares, cabe ao passageiro ir dosando a mistura de ar frio com ar quente através dos comandos que acabam sendo menos práticos e exigem mais atenção que um simples botão rotativo mecânico. Fora que ao se modificar a mistura entre o ar frio e quente o sistema tem um delay que faz a pessoa perder a sensibilidade de se achou a temperatura certa. Uma pena pois poderia ser do tipo automático no qual se seleciona a temperatura, já que o T60 possui todo um refinamento ao menos na apresentação.

Já a posição de dirigir e o espaço para os ocupantes são bons. O encosto de cabeça dos bancos dianteiros é extremamente inclinado para frente com a intenção de evitar a torção do pescoço em impactos traseiros, mas acaba dando “tapinhas” na cabeça quando se passa em valetas e lombadas. O porta-malas tem o volume divulgado de 600 litros, mas provavelmente só deve ter este volume se considerarmos a altura até o teto pois não fica muito longe das dimensões dos porta-malas de outros SUVs do mercado. Não que seja pequeno, leva bastante coisa mas parece que inflaram um pouco o número do volume.

Mas o ponto mais decepcionante é a enorme mídia central que não conta com os sistemas Aple CarPlay e Android Auto. Para espelhar o telefone na tela o motorista é obrigado a baixar um aplicativo da Jac que literalmente espelha a tela do celular, que só é mostrada quando o celular está desbloqueado e não permite comandos através do multimídia. Caso o motorista tenha que alterar alguma coisa será obrigado a realizar os comandos na tela do celular. Para piorar a situação a porta USB que faz a função de espelhamento não carrega o celular, drenando a bateria dele. Se quiser carregar o celular terá que usar as tomadas USB disponíveis para os passageiros do banco traseiro. No final, o usuário se vê obrigado a pendurar o celular no para-brisas, conectando o áudio via bluetooth usando um carregador de celular no acendedor de cigarros enquanto se tem uma mídia com uma tela enorme e chamativa, forçando a se pensar “pra quê serve isso?” toda vez que se olha para ela.

Sob o capô

jac t60 motor

A Jac Motors trouxe um motor 1.5L Turbo a gasolina, com injeção direta e VVT nos dois comandos, receita boa para render bons números de potência e consumo. Aliada ao motor há uma transmissão do tipo CVT que usa acoplamento por embreagem em vez de conversor de torque. Tal estratégia visa melhorar o consumo de combustível mas peca no pulo inicial numa saída de farol ou para subir aclives – mais detalhes mais abaixo.

O que deixa intrigado é a divulgação dos números declarados – 168cv@5500rpm e 21,4kgfm@2000-4500rpm. Não por serem altos, pelo contrário, mas por simplesmente desafiarem um pouco a matemática. Como sabido e mostrado também pela Jac Motors, a curva de torque de um motor turbo atinge seu pico quando o turbo “enche”, no caso aos 2000rpm, até um ponto em que o turbo se “estrangula”, aos 4500rpm no T60, e não consegue sustentar mais a vazão de ar suficiente para cada volta do motor gerar aquele torque. Ou seja, a partir dos 4500rpm a curva de torque vai caindo porque o motor está aspirando cada vez mais ar e o turbo chegou no seu limite de vazão. Como resultado a potência – resultante da multiplicação de torque por rpm – do motor turbo acaba ocorrendo não muito longe do pico de torque, por volta de 1000rpm. O problema no caso do T60 é que se divulga 168cv@5500rpm e para se gerar esta potência em tal rotação o motor deveria produzir 21,8kgfm de torque. Ou seja, ou o motor produz um pouco mais de torque @1000rpm a mais do que o declarado ou ele não produz esta potência. Infelizmente não colocamos o T60 no dinamômetro para medir os números reais mas possivelmente acharíamos coisas interessantes.

Suspensão e direção

O acerto de suspensão é bom, tanto para absorção de impactos quanto para o controle de movimentos longos da carroceria, que foca mais no “jeitão macio” para transmitir conforto. O sistema de direção também é bem ajustado e traz o DNA típico da Jac Motors, com respostas ariscas com pouco grau de esterçamento – o que produz uma sensação de contato direto com o solo – mas que exige maior controle do motorista para não ficar balançando o carro de um lado para o outro em velocidades mais altas.

Desempenho, consumo e impressões ao rodar

A primeira impressão na saída com o T60 é justamente o acoplamento da embreagem, que se traduz numa saída mais lenta e demorada até o turbo encher. Nada que no dia-a-dia salte aos olhos do consumidor comum, mas que deixa a desejar numa tocada em que se exige mais desempenho.

Por outro lado o sistema ajuda a melhorar o consumo. Fez 15,9km/l no nosso trecho padrão de consumo de 70km, sendo 80% pelas Marginais Tietê e Pinheiros. Nada mal para o porte do carro. Como comparativo, o Ford Territory que também tem motor 1.5l Turbo e CVT fez 12,8km/l. Tudo bem que o Territory é um carro maior e mais pesado mas o comparativo vale pois iremos comparar o desempenho de ambos.

Na questão desempenho é aí que o ficamos com a pulga atrás da orelha. Primeiro pelo fato de o motor não passar de 4500rpm com o câmbio em modo automático, limitando a potência entregue. A única maneira de fazê-lo passar desta rotação é usando o modo manual, que simula marchas mas perde ainda mais desempenho, deixando claro que a 5500rpm não há tal potência declarada. Nesta condição o 0-100km/h foi em 12,4s e o 0-400m em 18,6s sendo que a Jac Motors declara o 0-100km/h em 9,6s. No gráfico abaixo podemos ver as simulações de marchas bem como a pressão de turbo que fica sempre entre 140 e 160kPa, ou seja, de 0,4 a 0,6bar de pressão (relativamente baixa).

jac t60 arrancada manual

Já no modo automático os números são melhores, mesmo mantendo a rotação travada nos 4500rpm. O 0-100km/h foi de 11,2s enquanto o 0-400m em 18,2s. Neste caso a pressão de turbo ficou fixa perto dos 160kPa ou 0,6bar.

jac t60 arrancada automatico

Ou seja, não só pior que o divulgado pela Jac Motors mas pior que o Ford Territory que foi massacrado pelas mídias por ter “apenas” 150cv, entregando 10,1s e 17,2s respectivamente mesmo sendo 300kg mais pesado (T60 1365kg e Territory 1632kg!). Ao comparar o gráfico de aceleração de ambos fica nítida a diferença de desempenho nos instantes iniciais, momento no qual o conversor de torque faz toda diferença em relação ao acoplamento por embreagem.

jac t60 vs ford territory

Muitos podem argumentar que não estão à procura de desempenho e sim de bom consumo, e isso o T60 entrega muito melhor que boa parte dos carros e de longe melhor que a Territory (donde podemos concluir que o peso declarado do T60 é coerente senão não entregaria bom consumo). Mas por que divulgar números de desempenho e potência tão inflados então?

Contudo o maior ponto fraco na questão desempenho, que pode afetar até mesmo as pessoas que não buscam performance, é a capacidade de subir em rampa. A CVT não é curta o suficiente na relação que seria a “primeira marcha” para compensar a falta do conversor de torque, limitando não só a saída rápida mas como a capacidade de sair de uma rampa íngreme, como a da casa do Caçador de Carros. O T60 literalmente não conseguiu partir no meio da rampa, pelo contrário, começou a descer de ré mesmo com o pé cravado no fundo do acelerador. Para sair o Felipe Carvalho precisou vir embalado lá de trás para vencer a rampa.

jac t60 rampa

O comportamento em curvas é equilibrado e previsível. Não pudemos medir a aceleração lateral máxima mas notamos que o carro não estaria no ranking dos melhores neste teste. O controle de estabilidade eletrônico atua bem cedo, ou seja, desligando-o o carro consegue maiores velocidades em curvas. Tal estratégia está de acordo com a proposta do carro em ser seguro, e não necessariamente esportivo.

Conclusão

A Jac Motors procurou impressionar o mercado com o T60, mostrando tecnologia aliada ao bom desenho e acabamento. Entrega um bom consumo de combustível mas peca em oferecer uma central de mídia tão enorme, que cativa no primeiro momento, mas sem muita utilidade. Também pecou no quesito desempenho declarado e principalmente nas falhas já conhecidas de outros modelos do passado, como não conseguir subir uma rampa íngreme, condição bem comum nas nossas cidades. Quem sabe a próxima geração do T60 venha para sanar todos estes pontos falhos para aí sim incomodar a concorrência.

 

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